“Cria-se um significado quando muitas pessoas tecem
juntas uma rede comum de histórias. Por que determinada ação -como casar-se,
jejuar no Ramadã ou votar em um dia de eleições - parece significativa para
mim? Porque meus pais também a consideram significativa, assim como meus
irmãos, meus vizinhos, pessoas em cidades próximas e mesmo habitantes em países
distantes. Por que todas essas pessoas pensam que isso é' tão significativo?
Porque seus amigos e vizinhos compartilham a mesma
opinião. As pessoas reforçam constante e reciprocamente suas crenças, num ciclo
que se autoperpetua. Cada rodada de cofirmação mútua estreita ainda mais a teia
de significados, até não se ter muita opção a não ser acreditar naquilo em que
todos acreditam.” – Trechos do
Livro Homo Deus de Yuval Harari
Em assuntos que mexem com a emoção do sujeito – como futebol,
religião ou política, por exemplo – o cérebro humano não assimila nem aceita
informações e evidências que vão contra suas convicções, comentou a jornalista
Malu Gaspar, sobre um estudo de neurociência que havia lido recentemente.
Ela deu como
exemplo o racha que pudemos observar no dia do interrogatório de Lula ao juiz
Sergio Moro. "Todo mundo assistiu ao mesmo depoimento, viu as mesmas
imagens sobre manifestações a favor e contra Lula. Mas quem era pró-Lula acha
que o depoimento foi um sucesso e o ex-presidente desnudou as verdadeiras
intenções de Moro. Quem já era contra Lula celebrou o fracasso. E assim vamos
confirmando a ciência."
A pesquisa foi
conduzida pelo psicólogo Drew Western e um time de pesquisadores da Emory
University, sediada em Atlanta (EUA), e o resultado apresentado na conferência
anual da Sociedade de Psicologia Social e Personalidade.
Basicamente, os
pesquisadores chegaram à seguinte conclusão: nós apenas procuramos evidências
para confirmar e apoiar nossas crenças e ignoramos ou simplesmente
reinterpretamos da forma que melhor nos convêm as provas que refutam nossas
convicções.
Outros estudos
conduzidos há pelo menos seis décadas que já mostravam o que os pesquisadores
chamam de "viés da confirmação", o nosso cérebro descarta o que não
combina com nossas opiniões e liga o radar apenas para aquilo que atesta nossas
teses. Um deles, feito pela Universidade de Ohio, mostrou que passamos 36% mais
tempo lendo algo que esteja alinhado com nossas ideias do que qualquer coisa que
seja contrária a elas.
Ou seja, ninguém
lê para se informar, apenas para ter razão. Nada do que os jornais digam, do
que o noticiário mostre, nenhum tipo de comentário ou debate, por mais
civilizado que seja, se revela minimamente eficaz porque o cidadão simplesmente
não está interessado.
Vemos todos os
dias isso pelo noticiário. Veículos de comunicação são atacados ora por
coxinhas, ora por petralhas, sem falar dos bolsominions, dependendo da notícia
que trazem em suas manchetes. Se ela agrada será compartilhada imediatamente.
Do contrário, apenas serve para que a fonte seja desacreditada. Não serve.
[...].
Passamos a ver
interesses escusos e conspiração quando o "lado de lá" nos surpreende
com posicionamentos com os quais concordamos. Abandonamos a busca da verdade
porque é difícil assumir um erro ou mesmo encarar que se vive uma mentira,
principalmente quando há tantas outras pessoas mergulhadas na mesma
irracionalidade e o compromisso ideológico de se manter fiel a ideais.
Mais fácil
manter a soberba, mesmo que descubra que tem sido manipulado por suas próprias
emoções, mesmo que se dê conta que tem sido apenas um idiota vivendo de
mentiras. Leia
na íntegra