Escrevi
um adeus em um papel e o assinei. Não me alonguei como geralmente costumo fazer
em sua presença. Preferi ser breve. Finquei o escrito no portão da sua vida. Eu
sei, não avisei quando cheguei, mas senti uma vontade incontrolável de anunciar
que agora me vou.
Vou porque é tempo de ir. É tempo de seguir a minha natureza
de partir. De guardar bonito o que vivemos. De guardar as memórias partilhadas,
as histórias dedilhadas, os dias que nos acolheram em horas de longas conversas
e admiração. Preciso dizer que finquei o papel de forma displicente, e o fiz
para que, com sorte, o vento o leve e o meu adeus fique no silêncio, se valendo
apenas da tua percepção em sentir que já não estou mais.
O mundo anda rápido hoje. Pessoas muitas vezes são
substituídas como a última coleção outono/inverno abrindo espaço para novos
modelos primavera/verão. Pessoas são, comumente, liquidadas, bem baratinho, em
algum saldão da vida.
Esse tipo de coisa entristece, esse tipo de comportamento
desalinha o ânimo mais exultante. Espero que eu valha pra ti mais que o
teu all star velho (e eu sei que você tem um certo apreço por ele).
Espero, lá no fundo, que você reserve um lugar especial para mim em seu
coração...
Eu sei, é estranho, contudo às vezes é preciso ir para poder
ficar. É preciso ir para, depois de tudo, regressar e quem sabe dividir um maço
de cigarro barato, como se o tempo não tivesse passado. É preciso ir para saber
aqueles que são de verdade.
Então se nada mudar, depois de um longo tempo de distância,
se nada mudar depois que novamente nos tocarmos, eu saberei que sempre morei em
você, que teu coração me abrigou carinhoso no tempo em que fiquei fora. Saberei
que a gente vai ser pra sempre, mesmo que de vez em quando um dos dois resolva
simplesmente ir. Por Vanelli Doratioto/contioutra.com -
enviado por Cacau Quil